




Fotografia pra mim sempre foi `a vera. Profissão, ganha pão. As poucas lembranças que tenho de ter na câmera o curtir do diletante foi na adolescencia quando tive uma Love. O nome é este mesmo. Era um amor de camerazinha descartável. Você fotografava e mandava a câmera pra revelar. Em troca te davam uma nova e as cópias nem sempre muito nítidas da anterior. Depois dela ganhei de presente uma Miranda e já olhava pra ela como quem pergunta se ela me ajudaria a viver das suas imagens.
"Ter força pro trabalho é um privilégio, viver do que se gosta, maior ainda". Observando o Flavio trabalhar me veio em mente este pensamento. Para muitos montar um telhado pode ser um fardo braçal que não inspira maior contemplamento. No entanto, bonito de se ver é o entusiasmo do profissional que me chama pra mostrar a beleza que tá o alinhamento das ripas sustentadas por caibros milimetricamente paralelos. Quanta poesia tem aqueles cálculos matemáticos de beleza simples. Flavio faz aquilo com a naturalidade de quem pedala uma bicicleta. Fácil pra quem sabe. Difícil pro pedreiro é posar pra foto mirando o horizonte.
Enquanto isso o ajudante Chico segura a guia de uma ripa que espera o prego. O olhar é distante e o gestual traz`a lembrança o desfilar orgulhos de quem na procissão nordestina leva a bandeira do santo.