sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Meu momento Easy Rider
Sabe aquela frase: "O amor pode estar ao seu lado" ? Pois passando pela loja Harley Davidson da Barra não resisti e embiquei meu possante twingo carinha de sapo. A calçada parecia o muro do paraíso. Motos HD de todos os tipos, cores e todas brilhosíssimas. Os caras devem andar com Kaol no bolso. Estacionei de ré com cuidados e requintes de minúcias. Pensei que se esbarro numa daquelas teria que vir correndo pra casa anunciar minha mãe nos classificados de O Globo pra pagar um retrovisor amassado da motocicleta que jazia no chão. Estacionei como quem faz baliza. Sai do automóvel, endireitei entre os dedos a "legítima que não solta as tiras" e com respeito adentrei o recinto. Veio uma loira me perguntar qual era a minha e eu muito descaradamente disse que tinha ido ali só mesmo pra namorar. Hã... perai que eu vou chamar o Marcelo respondeu a brilhante cabeleira com uma moça embaixo. Na seqüencia veio um rapaz normal, baixinho que no cartão que me deu lia-se Marcelinho. Atencioso me perguntou logo qual era a minha moto atual. Não pestanejei e... senhores, acreditem, menti: Ha, eu tenho uma Virago 250, respondi indubitavelmente confiante. Ele compartilhou da minha fantasia e mandou: "dimais", tive uma. Qual a cor da sua? Respondi baseado num anuncio que vi ontem: vermelha, meio grená (uiii). Ha, então deve ser uma 99. Respondi nãooooo, 2000. Isso mesmo, ele devolveu. Pois eu tenho a moto pra você! Aí, meus interlocutores, ficou sério o bagulho. Ele me mostrou este sonho cujo link abaixo não me deixa mentir ainda mais. Senta nela, ordenou sugerindo. Pensei: putz, sentar não meu rapaz. Sentei, tombei prum lado pra sentir o peso sem o descanso e me senti Peter Fonda e Dennis Hopper ao mesmo tempo. Meu tão sonhado momento Easy Rider se materializou nesta tarde de quarta feira.
Respirei fundo, me aprumei e encaminhamo-nos, dois rapazes, pra mesa. Motinha barata, um pouco mais que umas 30 mil unidades de dinheiro. Especulei então: ai, maluco, tipo: se eu der minha mãe (pois não precisei negocia-la la na entrada, lembram?), como ficam as prestações do restante? Tio, respondeu: 36 de R$ 797,38.
Cheguei em casa minha mãe já tava dormindo. Vou ver se consigo conversar com ela amanhã antes de sair pra um mídia training que to fazendo de biscate
Não tenho tudo que amo na Harley mas me orgulho da minha Black Indian. Na verdade mesmo, de verdade, ela é uma Caloi Poti que comprei em petição de miséria mas andando bem ainda, no interior do estado por R$ 40,00. Desmontei, lixei. pitei comprei-lhe um farol chinfreiro, confeccionei-lhe franjas de couro para os punhos, logo da Independent Skate Trucks no cilim. A bicicleta velha, reparada pelos maledicentes "virou" uma bike vintage admirada pelos iniciados.
"Se não tem Empório Armani
Não importa vou na Creuza costureira do oitavo andar
Se não rola aquele almoço no Fasano
Vou na vila, vou comer a feijoada da Zilá"
Zeca Baleiro
Detalhe técnico
Sobre as fotos: luz natural aos 45 graus descendo em fim de tarde e entrando pela janela lateralmente. Rebatimento de espelhos. Grande angular usada como macro.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
A Lua do Zé do Tetel e do Dersu
Chegando em casa hoje fotografei a Lua. Então me veio na lembrança uma conversa que tive com o amigo e fotógrafo José Caldas. Confessando a dificuldade que tinha em fotografar a lua, ele me deu a receita. Disse assim na época: "Guarim, é mole, não tem mistério. A luz da lua é a mesma luz do deserto".
Nunca mais esqueci daquela frase que certamente o Zé não vai lembrar de tê-la me dito. Tempos idos fui ao Atacama, o deserto mais seco e também, certamente, o mais colorido do mundo. Por volta das duas da tarde a regulagem da câmera tava dando 250/11 com 200 iso. Esta era a fórmula e eu já estava apto a fotografar o satélite dos namorados.
Conheci o Zé no bar ao lado da Manchete onde esperávamos pelo Tetel. Tetel era o laboratorista da Bloch e herói de todos os fotógrafos duros da época. Subversivamente revelava nossos cromos junto com os da revista, numa época em que errar na fotografia era o equivalente a perder um filme que sempre foi caro e da ultima vez que fiquei curioso em saber já estava pelos R$ 30,00 o rolo. O passar do tempo somado ao que já passou certamente me perdoará esta confissão.
Certa feita dei de presente ao amigo laboratorista que morava em Coroa Grande um pé de abacate que cultivei no apartamento até os 90 cms de altura. Em um de nossos encontros furtivos vi o Tetel muito puto. A vaca do vizinho tinha comido o pé de abacate até o talo. Tragédia pouca é bobagem, pouco tempo depois ele me falou que seu gavião de estimação, que cuidava com tanto carinho, tinha comido um franguinho já bem criado.
-Dei uns tapas nele pra aprender a nunca mais comer meu pinto! Desabafou pouco tempo antes de, por uma contingencia tecnológica, perdermos o contato.
Ontem fui `a Restinga de Marambaia, e vi um sol se pondo de um lado e a lua nascendo de outro ponto do mesmo céu. Lembrei do Dersu Uzala do Kurossawa que filmou uma cena assim. Aquela lua me lembrou a fórmula do Zé que me trouxe na lembrança o Tetel que me faz lembrar o Dersu Uzala do Kurossawa que filmou uma cena assim
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
Sentimento Blues
Lembro bem a primeira vez que ouvi um Blues. No terceiro andar do Rio Sul tinha uma loja de discos, HiFi. Tocava uma música que eu não sabia bem o que era mas tinha certeza de que não precisaria ouvir outra coisa depois disso. O vendedor me mostrou a capa de um disco do Little Walter.
Outra feita, entrei eu num show bem apertadinho num espaço mínimo no sótão do Castelinho do Flamengo. Ouvi All Your Love, um clássico do gênero, tocado com proficiência pelo Suburblues, uma banda que depois viria saber, era expoente do estilo. Por uma feliz acolhida ao tiete troquei figurinhas com o guitarrista e desde então meu grande amigo.
Alexandre Barcelos é daqueles difíceis de categorizar com um texto tão pobre e restrito. Trabalha cada nota no instrumento com a maestria de um escultor que dá forma ao mármore. Apesar disso, seu virtuosismo elegante o mantém no palco como coadjuvante de um espetáculo grandioso. Teimosamente porém, a luz o acompanha.
Nesta última edição do Stormy Tuesday subiram ao palco Alexandre Barcelos e a vocalista Stefania Blink relembrando o Suburblues com sua pegada de Diva. Bem pertinho, Otavio Rocha e Charles Zanol atrairam todos os olhares para uma disputa entre guitarras reais e imaginárias. Ao Fundo Beto Werther, e eu sempre me pergunto por que não acima, suspenso para que todos o vejam acariciando bumbos e pratos. Pois mesmo não tendo a menor vaidade como a musa do avô, Cesar Lago ao baixo está merecidamente sempre de e a frente.
Aquela música que eu não sabia bem o que era quando entrei na loja de discos, hoje tem pra mim uma tradução fácil. O Blues é na verdade uma reunião dos que muito se gostam. Eu comprei o vinil que tava tocando e desde então Valtinho e todos os seus amigos me fazem companhia.
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