sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Uma jaca jaz






Precisei aguardar, fazer uma hora de 30 min. Entrei e abrigado pelos portões do Parque Lage registrei alguns detalhes do casarão e seu jardim.
Contam a lenda e a história que aquela propriedade era um engenho de açucar que se chamava Del Rei. Em 1920 Henrique, herdeiro da família Lage, construiu o casarão como uma declaração de amor. Um mimo para a Esposa e cantora lírica Gabriela Bezanzoni.
Lage Misturou vários estilos como era de bom tom na época e pôs um guerreiro de pedra na parede lateral que vigilante observa os que chegam trazendo pra casa a modernidade de nossos dias. O jardim é grande e no seu caminho uma jaca jaz. A luz entra de forma generosa e dá vida `as folhas secas que aos poucos se transformam em blocos de pedras que outrora chamavam paralelepípedos. O lugar é belo e por esta razão a casa de dona Gabriela abriga uma escola de artes. Do lado de fora o sol de primavera brinca de imitar e pinta sua tela feita de sombras num suporte de clorofila

terça-feira, 2 de agosto de 2011

A Orquídea Ariana






Notícia da Pedra do Reino, com seu Castelo enigmático, cheio de sentidos ...... E Gregorio Camaçari Quaderna, fotógrafo e Poeta, era Guarim de Lorena. ...

Quem diria que o Gregorio, fotógrafo, incorporaria o Personagem Guarim de Lorena, um dos cavaleiros de Carlos Magno que o grande Ariano Suassuna adaptou para os ares nordestinos de uma estoria de cavalaria?

Numa destas coincidencias em vida conheci o Ariano que neste último 16 de junho completou joviais 84 anos. Antes de fotografa-lo me apresentei dizendo que lhe diria meu nome. Ele olhou pra mim como quem diz: Hã, sei!!!! Quando falei ele deu uma risada receptiva e completou. Claro, O cavaleiro.
Vestido em linho branco com a delicadeza de uma orquídea que se eterniza flor uma vez ao ano, Ariano atendeu solicito ao pedido de centenas de autógrafos. Em cada livro que lhe retratava em fotos, uma lauda de dedicatória e um sorriso pontuando o texto. No final da noite sem demonstrar menor fadiga ou irritação, circulava menino, quase anônimo, se não fosse ele, O Suassuna. Interrompi seu passeio
pelo salão da Academia Brasileira de Letras e lhe pedi uma foto posada. Ele procurou aos lados e chamou delicadamente: Zelia, vem cá! Segurou sua esposa pela mão e como namorados novos se sentaram no sofá azul.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Doabstratoaofigurativoabstrato





Na busca pelo belo uma pessoa menos versada no campo das artes ou impedida de frequentar galerias e exposições se desilude ao deparar com uma pintura dita abstrata. Como pessoa do sub genero humano que sou me incluo nestes dois impedimentos. Felizmente minha primeira experiencia com a fotografia profissional foi como assistente de um grande fotógrafo de publicidade, João Bosco, que se dedicava com afinco ao registro de toda uma leva de artistas, na maioria vindos do Parque Lage, e que mais tarde atenderiam pelo nome de geração 80. Descobri em boa hora que era no abstrato que o artista podia preencher o espaço teoricamente vazio de uma tela com o que tinha de mais vigoroso: sua energia e personalidade.
Com o Bosco aprendi que a obra de arte fala por si só. Independe do entendimento de quem a vê. Ou se gosta ou não. Simples assim, sem muita explicação, sem aparatos teóricos que sustentem este gostar. O valor da trabalho portanto vai muito alem da assinatura embaixo ou atrás da tela. O que vale está no ato de ver e neste momento o expectador se torna um quase autor, com toda a força deste cliché.
Olhando pela janela do quarto de meu filho Cauê descobri não por acaso estas composições pintadas (na fotografia as vemos em duas dimensões) por um pé de xuxu que usa a folha da bananeira como tela, ou suporte, num linguajar mais chegado `as artes plásticas. A tela que a princípio se apresenta abstrata, executada com pinceladas livres, com o afastamento do olhar e a contemplação do todo se torna figurativa.
Mais tarde, ao conferir na tela do computador, pra minha surpresa, descubro um personagem importante que estava lá naquela "paisagem" primitivamente abstrata mas que só me foi apresentado quando olhei a composição revelada

quarta-feira, 20 de abril de 2011

125 de Velocidade e 5.6 de Abertura








Eu sou de "Mil Novecentos e Guaraná de Rolha". Pelo menos lembro de tirar com a unha a rolha colada na chapinha. Sou também do tempo em que o fotógrafo era "o especialista", o cara que olhando uma cena em determinada hora do dia sabia que com um filme TriX a foto sairia boa com 125 de velocidade e 5.6 de diafragma. Isso o distinguia dos demais seres vivos. Apertando-se hoje o botãozinho do celular o duende preso la dentro equaliza esta questão.
O tempo... o tempo devolveu ao "fotógrafo" sua única e verdadeira atribuição: Olhar.
O fotógrafo é aquele que olha o tempo todo. Olha a luz confinada no espaço equidistante de quatro ângulos retos.
Em São Paulo com um aparato feito pra falar mas que captura imagens com míseros 2.0 mp registrei estes pontos de vista que compartilho:
Por incrível que pareça eu acredito que São Paulo faz parte da América Latina. Lá tem um memorial com este nome e fica em Barra Funda. O buraco é mais em baixo.
No metrô a escultura do mineiro Alfredo Ceschiatti lhe empresta os olhos e observa com certa lascívia os "manos" que apressados por ela passam e a não observam. Não precisam, ela vai estar alí, no mesmo lugar amanhã.
O menino Kauã olha pela janela a paisagem. Ao lado a mãe que com sua irmãzinha no colo parece não ter motivos aparentes de contemplação. O pai ainda não traz na pele a irmãzinha, apenas segura a toalha da caçula.
A loira traz no corpo a público um pouco de sua intimidade. É possível que se chame Gich e seja o ponto comum entre Ana Maria, Paulo Luiz, Francisco e Anelize.
São Paulo parece relembrar o tempo todo. Os prédios são modernos e as esquinas antigas. Reminiscencias de quem tirou do bico do papagaio promessas de outros tempos.
Entre uma passada e outra este que passa mineiramente cabisbaixo encontra no chão a figura talvez divina de um Cristo idealizado ou de um Bin renegado e rasgado.
Por fim tudo são flores. Não fosse o desmentido de uma calçada em preto e branco, de alinhamento gráfico perfeito

sexta-feira, 11 de março de 2011

Belezas distintas









Meu esporte predileto, o único que consegui me sobressair foi jogar bola de gude. Jogava pelo fascínio das bolinha. A sociedade tal qual conhecemos preconiza a escolha do melhor em cada categoria. No território sagrado da música felizmente esta erva não floresceu. Cada instrumentista tem sua característica. Cito 3 dos grandes guitarristas de blues que figuram como referência do estilo seguido de exemplos no Iu Tubil
Jimi Hendrix e sua pegada visceral
http://www.youtube.com/watch?v=zlTkc3RicsM&feature=fvwrel
Duanne Allman que fazia da guitarra um violino psicodélico
http://www.youtube.com/watch?v=jfZdwCtrKWI&feature=related
E finalmente Roy Buchanan, o maior guitarrista desconhecido de todos os tempos. Nenhum músico chegou tão perto da alma do instrumento quanto ele
http://www.youtube.com/watch?v=swX9oq6TVAU&feature=related

Tal qual, os instrumentos por sua vez, tem belezas distintas e timbres únicos, impossível compara-los.

Quando se fala em guitarra nossos neurônios se mobilizam e criam em nosso inconsciente coletivo a imagem de uma Stratocaster. Ícone do design moderno, impávido desde sua criação é fruto da dobradinha de Leo Fender, George Fullerton e Freddie Tavares em 1954.

A idade não é implacável nesta passarela de belas. Quanto mais antiga melhor. Esta Kapa Continental tem exatamente a minha idade. A beleza do efeito craquelê no verniz da madeira é como marca de expressão. Sem botox conta a história de uma vida.

A guitarra acústica ricamente ornamentada com madreperolas, marfim e tartaruga vem dos fins de 1800. O que tem de ecologicamente incorreta o som a redime.

Um furo em forma estilizada de F diferencia esta Semi-acústica de timbres doces. A perfeição no corte deste buraco semelhante ao dos violoncelos é um item relevante na qualidade destes instrumentos. Perfeccionismo `a parte, ouvi-la é como uma massagem na alma.

Orgulho da indústria nacional no inicio da década de 80 esta Giannini modelo exportação de construção única leva na formula ingredientes nobres: mogno, imbuía, marfim e pau ferro.

Por fim a prova de que a vida após a morte pode ser bem bacana. Da primeira vez que a vi ela estava rachada por servir de tacape numa briga entre irmãos trazia algumas penas de galinha, lembrança de uma estada demorada num galinheiro. Hoje tem valor inestimável. Garbosa ostenta a assinatura de duas lendas vivas: John Mayall, o Inglês que redescobriu o Blues batendo as primeiras estacas do roqueirol e de Johnny Winter, o albino nervoso que reinventou o Blues elétrico.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Blue Highway





Algumas imagens são raras. Não falo aqui daqueles eventos politicamente incorrectos que se referem ao féretro de pessoas de baixa estatura. O que apresento a este respeitável público diz respeito a vida nascendo nos primeiríssimos raios de sol de verão. Antes de virar som as cigarras ainda em formato de besourão esperam seu momento enterradas por até 17 anos. Saem, se agarram ao caule de uma árvore e assumem o formato que conhecemos deixando pra trás uma casca intacta, transparente e dourada.

Nas folhas de maracujás o banquete das formigas é uma lagarta que jaz estendida na folha do maracujá que lhe fora banquete.

No bem me quer, mal me quer do tempo a última pétala fica como testemunho dos tempos pixiguinianos quando era divina e graciosa.

Impávido o bastão do imperador dispensa o senhor com título e nobreza que lhe dá nome. Como um peixe-leão no fundo do mar, no jardim o bastão reina.

Nem aí para as minhas conjecturas biológicas uma joaninha disfarçada de fusquinha reluzente passa em altíssima velocidade zunindo numa autoestrada azul feita de varal de secar roupas

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Por acaso








As primeiras coisas que um foca aprende quando começa trabalhar em jornal é que régua de picas (pronuncia-se paicas) não é nome feio e servia para medir o tamanho do texto numa era pré Page Maker. Aprende logo também que as melhores fotos e matérias nunca são encomendadas, simplesmente acontecem no caminho da pauta principal sugerida pelo editor.
Fruto do acaso ou de um olhar mais atento ao derredor a fotografia vem aos olhos e acontece de repente. Na seqüencia seguem 3 exemplos
Cobrindo um torneio de futebol eu já estava manobrando o carro e no canto da pista numa área que antes era um alagadiço a garça encharcada convida um peixe pra sair da chuva.
A última vez que andei na moda foi quando cheguei na escola com uma calça cukier de presponto branco mas como o jornalista é um especialista em variedades cobri a última edição do Fashion Rio. Registrei no Parque Lage, `a luz do dia uma modelo realmente bonita e quase sem maquiagem. Voltando pro PIT (nunca tive a curiosidade de saber porque o cercadinho onde ficam os fotógrafos de moda tem este nome) olhei pra cima e vi estas palmeiras pelo toldo plástico. No Cais Mauá onde aconteciam os desfiles dava pra ver um arco-iris que no fim de tarde usava a ponte Rio Niteroi de passarela.
Uma das flores que acho mais bonita é uma bromelinha do tipo Tillandsias que se agarra aos troncos de mangueira, principalmente e florescem uma única vez. Registrando uma delas me dei conta de que bem ao meu lado uma aranha usava todo seu colorido e atraia a atenção de pequenas presas voadoras que por acaso por ali voavam.

Informação relevante:
Não por acaso, mas por atenção e elegancia da fonte. Roberto Menescal, o grande músico da Bossa Nova e autoridade no assunto bromelístico, pois é virtuoso também como criador destas belezas, ornamenta esta postagem com uma informação complementar. O nome correto da bromelinha é Tillandsia Stricta. Brasileirissima, poderia ser tema de música pois ela é carioca.
Que este ano nos traga alegrias perenes e que o acaso nos chegue com notícias sempre alvissareiras.