terça-feira, 22 de janeiro de 2013

As credenciais







O inicio de carreira de um fotógrafo é um exercício de paradoxos. Lembro que me tranquei com dois "sócios " no cofre de um antiquário em Copacabana onde montamos uma luz e fotografamos alguns produtos. Na época, precisávamos mostrar uma luz, um enquadramento, um bom senso de composição. Pra se ter o cliente tínhamos que ter um portfólio. Como ter um portfólio sem ter sequer o primeiro cliente era questão.
Hoje chego a conclusão que o tal portfólio se resume na confiança. A bagagem de um profissional nada mais é que as oportunidades que este teve ao longo da vida. Alguém representando alguma instituição lhe creditou a confiança de registrar um fato, de fazer parte de um empreendimento.
Em 1992 fiz parte de um grupo pomposamente entitulado de Photo Pool, como convinha `as circunstâncias grandiosas da Eco 92. Vinte anos depois e algumas credenciais a mais, me foi confiada a tarefa de registrar o Humanidade que foi o ponto alto e mais visível da "Rio Mais 20". O projeto, uma estrutura de andaimes montada nas pedras do Forte Copacabana, recebeu em 12 dias um contingente de 220 mil visitantes.
Se o foco da Eco 92 foi o meio ambiente, vinte anos mais tarde a discussão veio em forma de sustentabilidade que a wikipedia define como um sistema que permite a permanência, em certo nível, por um determinado prazo.
No Humanidade reencontrei Maurice Strong que lançou em 1973 o conceito de ecodesenvolvimento, quase um xamã, meu chefe na Eco 92. Empoleirado naqueles andaimes  pude fotografar além de tudo,  a orla de Copacabana de um ponto de vista jamais pensado antes.
Mais que um portfolio ao longo de uma vida profissional o que fica na verdade é uma paisagem tão vista mas sempre tão inusitada; fica a lembrança da luz no rosto da criança. Fica uma lembrança do reflexo na água que silhueta a intimidade de um casal anomimo que, sem saber, hoje faz companhia a alguns objetos que vi num cofre nesta mesma Copacabana