quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Parceria profícua





Um velho amigo sempre dizia: "tem trabalho que dá sangue". A gente trabalhava em um jornal popular famoso na época pelo que dizia e mais ainda pelo que diziam dele: "se espremer sai sangue". Tempos depois, fazendo meu primeiro relatório anual de atividades da Cruzada do Menor fui entender na plenitude a frase. O dar sangue tinha a ver com algo que iria além do pagamento de honorários. Tem trabalho que redime.
Recebi em forma de depoimento um perfil no site da Cruzada. A matéria fala de uma parceria mútua e profícua, do respeito e admiração do doar carinho e receber um sorriso.
Abaixo o link da página da Cruzada do Menor. Acima algumas imagens verdadeiras, sem produção, sem montagem, sem maquiagem ou fotochope de realidade
http://www.cruzadadomenor.org.br/web/pt/acontece/historia/2010/2010historia09.htm

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O importante é que emoções eu vivi





Numa dimensão cósmica, faz muito pouco tempo, fotografei o show que reabriu o Canecão. No palco a prova que o cliché "lenda viva" seria a melhor expressão para dizer alguma coisa sobre o astro sentado ali no palco bem ao alcance de olhos que brilhavam. O albino Johnny Winter, branquissimo blues man, formou com Jimi Hendrix, Duanne Allman e Eric Clapton nos finzinhos dos 60 o quarteto fantástico da guitarra de blues. Naquele momento histórico a lagarta do blues se transformava abruptamente em borboleta do Roqueirol. Johnny Winter é a síntese da música que não é mais uma coisa nem outra mas ambas ao mesmo tempo.
No visor da câmera o ídolo, na lembrança um pensamento que compartilho sempre com o Amigo na plateia, Claudio Lousada, que em boa hora me iniciou nos ritmos sessentistas: "quando vivemos um momento iluminado e temos consciência disso, este lapso de tempo especial o é ainda mais pois não precisamos lá na frente olhar em retrospecto para sabe-lo". Ou seja: quem diz que era feliz e não sabia não mereceu ter sido.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Meus amigos quando me dão



Recente soube do falecimento repentinamente inesperado da mãe de uma amiga antiga. Pessoa de riso fácil, de lidar tranqüilo, daquelas que em sua companhia nos perguntamos: por que não? Pra mim um dos mistérios da vida é nunca sabermos a última vez que encontramos uma pessoa. Estes três retratos registram três derradeiros encontros.
O Dr Barbosa Lima Sobrinho foi o símbolo da longevidade na imprensa. Presidente eterno da ABI, era menino ainda e trazia alguns biscoitos no bolso quando fiz esta dele brincando na cozinha de casa com seu cachorrinho.
Antes de fazer este retrato do Burle Marx perguntei-lhe onde ele se sentia melhor em seu sítio. Entre coleções de orquídeas me disse que em qualquer canto tava bom pois estava em casa.
Talvez o retrato que me deixou mais feliz tenha sido o daquele que fez sorrir a minha e as gerações anteriores. Roubei-lhe este instantâneo. O palhaço Carequinha antes de entrar em cena numa Lona Cultural em Santa Cruz, subúrbio do Rio, tinha um olhar distante como nós mortais pensando em nossas contas. No que pensaria nosso herói naquele momento iluminado, me pergunto sempre que vejo esta foto.
O encontro enquanto dura é uma fonte inesgotável de emoção. Numa destas saídas inusitadas de jornal cheguei a casa do cavaleiro da esperança, Luiz Carlos Prestes, que também atendia pela alcunha de O Velho. Quando me recebeu, muito sorridente me cumprimentou. Eu lhe disse que estava muito feliz e emocionado pois estava apertando a mão da história. Saindo dali pensei num poema que se tivesse lembrado antes lhe recitaria agradecendo o cumprimento

Meus amigos quando me dão a mão
Sempre deixam outra coisa
Presença
Olhar
Lembrança
Calor
Meus amigos quando me dão a mão
Deixam na minha a sua mão!
 
Paulo Leminski

terça-feira, 4 de maio de 2010

Ação entre amigos





Convidado pelo próprio tive o inenarrável prazer de fotografar um ídolo. A história se reinventa e Ricardo Werther, que é de longe, muito longe, a melhor voz do blues em terras tropicais lança seu primeiro trabalho solo. Turning Point é o título do disco resultado de seis meses de pesquisa do bom repertório que sai pela gravadora Delira Música. A versão de "Down by the river" é de fazer o Neil Yong sorrir. Com duas baterias no palco e a presença luxuosa de Otávio Rocha (Blues Etílicos) empunhando no melhor estilo Roqueirol uma guitarra de florzinha rosa o amigo Werther incendiou Botafogo nesta última quarta feira de lua cheia.

Aos namorados, maridos e amantes do bom Blues vale um click
http://www.deliramusica.com/produtos/produtos_descricao.asp?lang=pt_BR&codigo_produto=210

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Considerações psicodélicas






Como toda bela mulher, as flores usam de sutilezas para garantir a preservação da espécie. A Helicônia Bihai deixa a semente muito azul aparente. Lembra muito um verme alienígena. Atrai pássaros que se dão conta da peça que a flor lhe prega alguns metros longe delas. solta ali mesmo a semente e no chão ela germina. Muito puto, um passarinho destes só de birra voou muito, atravessou uns oceanos e a flor germinou. Devido ao desgaste da longa viagem, sem muita força, não resistiu muito tempo. Durou o suficiente pra se mostrar linda e hoje é a flor tropical mais exportada. Porém, a mais linda de todas é a flor do maracujá. Tramita no congresso em regime de urgência uma proposta de mudança de lay-out da bandeira nacional. Achar o pavilhão nacional "muito lindo" é um exercício de patriotismo. O novo símbolo nacional será a flor do maracujá. A nação já respira estes ares de renovação que, assim como os raios solares são filtrados pela folha do cará moela, ou cará do ar como também é conhecido. Na bela definição de um site especializado o cará moela é "um cipozinho delicado, em cujos ramos desenvolvem-se os tubérculos". Os hippies comiam no desjejum estes carás e respiravam o ar filtrado em suas folhas. Porém, de súbito, o movimento desapareceu, banido por ventos fortes que anunciavam a caretização das mentes e por conseguinte o fim dos anos 60. Na verdade o que aconteceu foi uma decepção coletiva vinda do firmamento. A estrela que fazia companhia a lua não estava mais lá. Nada justificaria os anéis de lua e estrela, era o fim de tudo. Hoje pela manhã antes de sair pro trabalho fotografei uma flor e, para meu espanto e contentamento, a estrela estava lá, escondida bem no fundo dela. The flower power

quinta-feira, 25 de março de 2010

Enquanto as flores descansam






Na faculdade de comunicação se aprende que o papel jornal do grande furo noticioso de hoje vira embrulho de peixe amanhã. No fundo o que fica é o registro na lembrança de quem o fez, tal e qual o sal de prata queimado na emulsão fotográfica que eterniza um momento de luz.
Fotografei este que foi não o maior trabalho, mas certamente a maior prova de confiança depositada neste ser profissional que vos relata. O evento fotografado foi a VI Olimpíada do Conhecimento do SENAI e da World Skills América que recebeu neste março de sol mais de 70 mil visitantes nos cinco pavilhões do Rio-Centro.
A intrépida trupe de competidores foi recebida no Maracanãzinho enquanto técnicos acertavam as máquinas. Nos dias de competição meninos davam sopro de vida a suas criações e pensavam no futuro que não para de chegar. Alheia a tudo uma árvore repousa apoiada no operário que dorme poupado pelas sombras. Por onde ele passou um caminho de flores descansam.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ajudar a viver poeticamente





Tive o privilegio de fotografar na jovialidade dos seus 89 e uma simplicidade quase franciscana um dos maiores filósofos vivos. Edgard Morin fala de educação com a paixão de um combativo resistente francês e o mesmo brilho nos olhos dos jovens aos quais seus textos inspiram.
Filosofando em forma de poesia ou poetizando filosoficamente Morin diz que ajudar a viver é a questão fundamental da educação.
Diante de uma plateia maravilhada Edgard Morin concluiu seu denso e tênue discurso definindo ética em três frases:
A ética é resistir a crueldade de um mundo aético, resistir`a barbárie humana e por fim ajudar a viver poeticamente