domingo, 2 de novembro de 2014

Sobre aguas






Indiferente a questões econômicas, culturais ou socioambientais a bromelia só precisa de um pingo d`agua para desejar bom dia

"Brigam Espanha e Holanda pelos direitos do mar
O mar é das gaivotas que nele sabem voar"



domingo, 19 de outubro de 2014

A traça não pode com a Alfazema







Em 1992 eu estava felizmente aboletado na equipe que cobria a Eco 92. Vinte anos depois subia nas pedras do forte de Copacabana uma estrutura entitulada Humanidades 2012. Em suas 10 salas temáticas a idéia era provocar uma reflexão sobre sustentabilidade. Algumas luas depois a Exposição rendeu um filme e a noite de apresentação da fita foi brindada com uma leitura de textos e músicas na voz de Maria Bethânia. Vinte e dois anos depois eu estava novamente lá e feliz.
Quando penso em realização no que faço o que me vem em mente é fotografar um show. É fotografando o som que consigo vislumbrar a melhor luz. Nestes anos de profissão consegui registrar alguns momentos musicais e sempre me disse que enquadrar Maria Bethânia seria onde melhor estaria quando la chegasse.
Lá estando constatei o que sempre imaginara. Vê-la no palco é mais que ouvir uma música que alguém canta. Sem medo do lugar comum digo que o que se sente no palco é uma energia que emana de uma pessoa que se doa como numa oferenda. Maria Bethânia é portadora de uma mensagem que vem de milênios. Defende suas crenças como um velho chefe índio. Seu cantar é como um mantra, seu sorriso cura como uma pajelança.
Ver a luz de Bethânia me vem como um alento e me mostra que o clamor pela liberdade muito mais e além de uma figura de linguagem piegas é possível.
Nesta nossa tênue democracia latino americana a voz de Maria me traz `a mente uma lei de 69 em forma de poesia que diz em seu primeiro paragrafo:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de sexo, raça, trabalho, credo religioso e convicções políticas
Maria Bethânia, sacerdotisa descalça antes de se despedir toca com as mãos o palco como reverência a um território sagrado e me sussura com sua voz calma um alento que diz "a traça não pode com a alfazema".

terça-feira, 16 de setembro de 2014

No embornal de pano












Na vida alguns trabalhos passam e outros ficam incorporados ao corpo. Como nutrientes de um alimento entram na corrente sangüinea e quando percebemos tornam-se parte do que somos. Digo que alguns trabalhos nos dão sangue.
A encomenda me veio de Marquinho, um fraterno amigo.  Como se fosse um favor me contratou, convidando para passar uma tarde nesta versão 2014 da Rio Oil & Gas Expo and Conference. O trabalho seria somar com a equipe de fotografos contratada para cobrir o evento mas de uma forma solta, sem agenda e horário. A idéia foi deixar o olhar livre para ver o que lhe aprouvesse. Perceber os brilhos das máquinas; de longe participar das conversas comerciais em andamento; registrar os movimentos e imobilizar a tarde frenética de  negócios e intenções.
Como bom mineiro que volta da roça num final de tarde, com um abraço "descarreguei" as imagens que trazia no meu embornal de pano.
E a noite desceu feliz

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Considerações sobre um pião






Quando pensamos que a vida para é porquê ela pode, quem sabe, em seu suposto estagnar, proporcionar abrigo e propiciar a vida.
Em sua inércia, o pião esquecido na prateleira suportou o ninho de um marimbondo. Foi o tempo exato que ele precisava para fazer um abrigo, procriar, secar as asas dos seus e voar. O não movimento deu vida a quem precisa voar.
O movimento é contínuo, e a vida se faz movimento. Por vezes, a imaturidade da arrogância, do pouco viver, do pouco se conhecer, pelo pouco que se tem rodado, nos brinda com a ilusão do sucesso de um movimento perfeito. De repente se descobre que o Rei está nu e ninguém te avisou que o seu rodar que parecia tão interessante subverteu regras básicas e aquela forma criativa de rodar está como dizem nossos vizinhos paulista, de ponta-cabeça.
Quando bem pequeno sonhava um dia poder rodar o pião como os irmãos mais velhos dos meus pequenos amigos. A força do braço adulto era tamanha que o brinquedo fazia um...
ZUuum ... naquele zunido quase budista eu viajava no desejo de crescer rápido e conseguir tal façanha, de deixar o pião rodando tanto que em segundos parecia não rodar. Ficava paradinho, como se movimento não tivesse. O ápice da vida é o movimento constante e tão rápido que ilude os sentidos com som e movimento extremos. A beleza da velocidade que resulta numa ilusória imobilidade.
Nos momentos de repouso notamos, piões que somos, que as várias quedas  e as frustração de tentativas que não resultaram no rodar esperado nos deixam marcas tantas. Tantas marcas que chegamos a feliz constatação que o mais bonito de tudo são mesmo estas máculas colecionadas. Nada mais feio que um pião novo, imaculado. Chego enfim a pensar que o mais interessante de tudo é o movimento errático que sucede prumo, quando se está a 45 graus. É aí que o pião se mostra mais engraçado e a brincadeira da vida tem seu ápice na graça.
A terra roda em prumo sempre. A vida não. A vida  é como um pião com seus prumos e movimentos que precedem a queda que imagina o enrolar da fieira no pião e o sonho de um novo prumo que precede a graça dos movimentos erráticos dos 45 graus que precedem o enrolar novamente da fieira...