domingo, 19 de outubro de 2014
A traça não pode com a Alfazema
Em 1992 eu estava felizmente aboletado na equipe que cobria a Eco 92. Vinte anos depois subia nas pedras do forte de Copacabana uma estrutura entitulada Humanidades 2012. Em suas 10 salas temáticas a idéia era provocar uma reflexão sobre sustentabilidade. Algumas luas depois a Exposição rendeu um filme e a noite de apresentação da fita foi brindada com uma leitura de textos e músicas na voz de Maria Bethânia. Vinte e dois anos depois eu estava novamente lá e feliz.
Quando penso em realização no que faço o que me vem em mente é fotografar um show. É fotografando o som que consigo vislumbrar a melhor luz. Nestes anos de profissão consegui registrar alguns momentos musicais e sempre me disse que enquadrar Maria Bethânia seria onde melhor estaria quando la chegasse.
Lá estando constatei o que sempre imaginara. Vê-la no palco é mais que ouvir uma música que alguém canta. Sem medo do lugar comum digo que o que se sente no palco é uma energia que emana de uma pessoa que se doa como numa oferenda. Maria Bethânia é portadora de uma mensagem que vem de milênios. Defende suas crenças como um velho chefe índio. Seu cantar é como um mantra, seu sorriso cura como uma pajelança.
Ver a luz de Bethânia me vem como um alento e me mostra que o clamor pela liberdade muito mais e além de uma figura de linguagem piegas é possível.
Nesta nossa tênue democracia latino americana a voz de Maria me traz `a mente uma lei de 69 em forma de poesia que diz em seu primeiro paragrafo:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de sexo, raça, trabalho, credo religioso e convicções políticas
Maria Bethânia, sacerdotisa descalça antes de se despedir toca com as mãos o palco como reverência a um território sagrado e me sussura com sua voz calma um alento que diz "a traça não pode com a alfazema".
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