terça-feira, 26 de março de 2013
Show de bola
Dos textos técnicos que li em priscas eras o que mais me chamou atenção foi sobre a crônica esportiva dos jornais numa era pré televisiva. O jornalista esportivo, digo, futebolístico, relatava com precisão de detalhes os lances, as faltas e o caminho percorrido pela bola até chegar ao gol. Seus olhos eram como câmeras da TV, num tempo em que ainda não se sonhava com o acesso das massas a este eletrodoméstico.
Se dizem que o fotojornalismo se aprende em jornal, minha passagem por esta mídia me valeu a oportunidade de entrar em campo. De futebol entendo que são dois times e uma bola, nunca tive maiores afinidades com o esporte, porém fotografa-lo é uma tarefa gratificante em imagens. Falando tecnicamente, se trabalha com velocidades altas, foco crítico e motor drive ligado todo o tempo. A imagem que se capta é sempre uma surpresa pois a foto esportiva é a comprovação do paradoxo da fotografia. No exato instante em que se aperta o disparador o espelho que reflete a imagem que entra pela lente e chega aos olhos é suspenso para que o sensor (antes era o filme) registre a cena. Digo assim que o fotógrafo nunca tem certeza de que o que ele viu foi o que conseguiu registrar.
Estes dias fotografei um campeonato de amadores que vestem o uniforme e a adrenalina os faz semelhantes aos seus deuses. São pessoas simples, que exercem seus oficios diários como um passa-tempo entre uma pelada e outra nos fins de semana de vida. Nas quatro linhas travam batalhas medievais e a bola, prêmio aos mais fortes, é almejada como o coração da princesa. Atores num teatro de arena fazem caras de sofrimento e bocas de bravura. Na intimidade do mano a mano voam e bailarinam dribles com a brutalidade de machos em guerra na doçura de um "pas de deux". Na tensão da zona do agrião, onde o capim não cresce, alheio ao espetáculo que segue, o goleiro acompanha rabo de olho a bola que não deveria passa de uma linha. No final a gloria ao vencedor, o sorriso eterno e a certeza que aquelas pessoas que se vestem igual serão sempre os melhores e inseparáveis amigos enquanto durar a lembrança de um lance que se desfecha em gol.
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É um privilégio do Sesc contar com um fotógrafo que escreve tão bem com as letras como faz com a luz!
ResponderExcluirTem a minha admiração. Sempre.