segunda-feira, 29 de junho de 2009

O cheiro




Em Bocaina de Minas reina a santa paz. Ainda que a paz seja um conceito e fugidia como pássaros de acrílico pendurados na janela. A vida passa a cavalo. Lentamente, como um fusca que pacientemente escolta os cavaleiros que seguem em frente. O ritmo é lento, constante e preciso como a trajetória da bola rumo `a caçapa que se esquiva no momento exato. Nesse bar senti um cheiro de doce que se guardava em vidro. O cheiro continua sendo o mesmo de quando o senti pela primeira vez.
Recebi um carinhoso convite do companheiro de imagens Rogério Reis. Av Brasil 500 é o nome da exposição. Este endereço abrigou até pouco tempo o Jornal do Brasil. O JB será para todo o sempre a referência do que um dia chamamos de fotojornalismo.
Indicado pelo próprio Rogério tive o privilégio de frequentar aquela casa e conhecer o cômodo que mais me dizia respeito: a editoria de fotografia. Ouvi dizer que dos sentidos, o que mais rápido chega ao cérebro é o olfato. Pois a melhor lembrança que tenho daquele lugar é o cheiro ainda em preto e branco do labortatório fotográfico. No mais todo o prédio cheirava a tinta que vinha da gráfica que rodava o jornal.
O cheiro. Talvez venha daí a constatação "`a-juizada" de que fazer jornal é como cozinhar.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Barrigudinhos


Houve um tempo em que meu brinquedo mais precioso era feito de ar, que soprado dentro do sabão se transformava em bolinhas coloridas. Nesta época meu melhor passeio era ir `a Quinta da Boa Vista. Visitava a múmia no museu e a girafa no zoológico. No final do dia nadava com outros moleques no lago verde e lindo de lodo. Levava sempre um vidro de maionese bem limpinho que voltava pra casa cheio de barrigudinhos. Nada era tão colorido e brilhante quanto aqueles peixinhos que também faziam bolinhas como o moço da foto que me deu estas.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Duas estrelas e uma pergunta


Duas estrelas brilham frente e verso bem em frente ao pavilhão que abriga a Brasil offshore em Macaé, a terceira maior feira mundial do ramo. Uma tem a ver com a produção de petróleo, a outra, um mimo que se alimenta do que esta produz. Ao lado das duas um super esportivo Lamborghini Gallardo com placa de Ipatinga - MG.
Em sua mineirice, se minha finada avó passasse por lá, certamente diria assim: "o que que esse Lamburguini foi cherá lá naqueles cafundó, meu deuso?"

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Fashion Rio




A única lembrança de uma atitude fashion que tenho desta minha pessoa é a de amarrar o cadarço do kichute dando duas voltas na altura da canela. No rádio, a rádio relógio, para não perder a hora da escola.
Existem umas paisagens que abrigam tribos que de tão distantes me parecem ficcionais. A primeira imagem desta série me traz a pergunta: esta menina cuja figura esquálida traduz seu sacrifício, me remete a algum tipo de beleza? Talvez a beleza esteja no fato de estar ali a serviço como eu e o companheiro que talvez ninado pelo cansaço se vai alheio ao desfile que passa.
Os holofotes destes eventos que nos bastidores iluminam os VIPs (Very Important Person) não iluminam os PRIs (Pessoas Realmente Importantes) para estas George Harison lembrava que "here cames the sun".
Por fim, participando deste desfile fashion da vida fica a certeza Bertolucciana de que independente do lado da cerca que estejamos este céu é que nos protege.

sábado, 6 de junho de 2009

Paradoxos

A fotografia comporta paradoxos extremos. Graças ao obturador, um aparato que divide um segundo em até 8000 partes, é possível registrar neste mergulho alguns fios de cabelo do Cauê molhados até a metade. Outro extremo é pensar que uma pessoa pode atravessar uma rua e não ficar registrada se o tempo de exposição da câmera for superior ao da travessia. Porém, nada mais paradoxal do que pensarmos que no exato instante que a imagem é registrada no CCD ou no filme o que se vê no visor é nada, escuro completo. Nesta fração de tempo em que a imagem é capturada o espelho por onde se olha através da lente é levantado para a luz passar e sensibilizar o filme ou ser captada pelo CCD. A fotografia é uma viagem `as cegas no tempo.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Linda é a pirita


A pirita (FeS2) é conhecida como ouro dos tolos. A pedrinha dourada é tão parecida com o primo nobre que engana garimpeiros de primeira viagem. Daí a tolice no nome. Pirita lembra também apelido de menina bonita como a Julia de quem roubei a pose com sapatinho dourado.
Vai aqui um desabafo. Prefiro a pirita ao ouro, mesmo sendo falso seu brilho. Talvez se os adornos dos nossos amerindios fossem de pirita, sua brincadeira com os visitantes espanhois tivesse sido mais divertida